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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Estado de emergência em Carandaí

Por Michele Pacheco

A prefeitura decretou Estado de Emergência em Carandaí.
A iniciativa serve para agilizar o envio de recursos dos governos estadual e federal.
Com o pedido aceito, a reconstrução do município vai ser mais rápida.
Desde o temporal de granizo da última segunda-feira, as cenas de destruição surpreendem quem chega na cidade.

Segundo o Ten. Cel. Alexandre Lucas, Secretário Executivo de Defesa Civil de Minas Gerais, ele está no órgão há 5 anos e nunca ouviu falar do estado ter registrado outro temporal de granizo tão violento quanto esse.
Um balanço parcial foi feito e a estimativa é de que pelo menos 40 mil telhas sejam necessárias para reparar as áreas mais prejudicadas no município de 24 mil habitantes.

Vi as reportagens das emissoras que estiveram no local e enxerguei os estragos com olhos de telespectadora.
Mas, quando fui para Carandaí, minha visão mudou.
Primeiro, enxerguei com olhos de jornalista avaliando qual o melhor lugar para filmar, o que o pessoal ainda não havia mostrado, quais as novidades...

Depois, conversando e vendo de perto o desespero das vítimas, comecei a enxergar tudo aquilo como ser humano.
São tantos olhares vazios de esperança, tantos relatos do desespero de quem viu tudo o que tinha ser devastado por pedras de granizo!
Isso dói fundo na alma da gente.
Puxa, eu estava lá trabalhando e sabia que ia voltar para casa, onde uma cama confortável e um cobertor quentinho me esperavam.
Aquelas 150 famílias desabrigadas e 3000 pessoas desalojadas não sabem o que é isso desde a última segunda-feira.

Nos abrigos improvisados, colchões e cobertores estão espalhados pelo chão. Sem saber o que o futuro reserva, os adultos mostram conformismo, desespero ou irritação.
Com facilidade de se adaptar a mudanças, as crianças encaram os desafios com mais facilidade.
Sem poder ir à aula, pois as escolas foram destelhadas, elas dividem nos abrigos os poucos brinquedos doados.

Brincam um pouco e passam adiante, para outra criança.
Os voluntários não descansam.
Estão sempre em movimento, entregando donativos ou recebendo doações.
É na hora do desespero que a gente vê que a solidariedade é grande.
Muita gente está ajudando, mas ainda faltam cobertores, colchões, telhas e móveis para quem perdeu tudo.

Com os primeiros carregamentos de telhas chegando, os moradores começam a reconstruir o que o temporal destruiu.
Para isso, contam com ajuda de voluntários, autoridades e representantes dos Bombeiros, da Polícia Militar, da Defesa Civil, da Copasa e da Cemig.
Apesar da tempestade que prejudicou a Região Metropolitana, não voltou a chover forte em Carandaí, o que vai ajudar na recuperação da cidade.

Lá, vendo de perto, entendi que a situação das autoridades também não é fácil e as cobranças são muitas.
O pessoal da Defesa Civil saiu de Belo Horizonte para organizar os trabalhos no município.
Com os estragos na Região Metropolitana, eles se dividem para dar conta de tudo.
Os bombeiros não descansam.
Saíram de Juiz de Fora e de Barbacena sem previsão de volta para casa.

Ajudam no socorro, vão de casa em casa fazendo o levantamento dos prejuízos e ainda encontram energia para consolar quem se desespera.
Fazem tudo isso, de um jeito especial, sabendo entender os rompantes de raiva de alguns desabrigados em busca de solução.
Por tudo isso, dou os parabéns a todos os envolvidos na reconstrução de Carandaí.

Parabéns pela capacidade de se doar ao próximo nos momentos tão difíceis.
Mais do que cumprir um dever, eles estão dando um belo exemplo de cidadania e solidariedade.

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