Por Michele Pacheco
Quem passava pela BR 267, na manhã dessa segunda-feira, teve uma surpresa desagradável no bairro Igrejinha, em Juiz de Fora.
Manifestantes fecharam por sete horas a rodovia que liga a Zona da Mata Mineira ao Sul de Minas e a São Paulo.
O protesto foi pela mudança de itinerário de 11 linhas de ônibus que atendem 8 bairros da zona norte da cidade.
Antes, os passageiros desciam em pontos na Avenida Getúlio Vargas, no centro da cidade.
Assim, a movimentação deles para ir ao médico ou ao comércio central era mais rápida.
O problema é que a sobrecarga de veículos na avenida estava prejudicando o andamento do tráfego.
O resultado encontrado pela prefeitura foi a redução gradual do número de coletivos nesta área.
O primeiro passo foi tirar 11 linhas que atendem 8 bairros da Zona Norte.
Revoltados, os moradores dos bairros Vale dos Lírios (linha 708), Igrejinha (linha 726), Humaitá (linhas 740 e 760), Valadares (linha 741), Rosário (linhas 742 e 745), Toledo (linha 743), Palmital (linha 744) e Penido (linha 752) resolveram protestar.
Também foi alterada a linha 746, Circular/ BR 267.
São linhas que atendem, em especial, habitantes de bairros mais afastados, quase zona rural.
O pessoal alega que já é difícil conseguir transporte, porque são poucos veículos.
Agora ainda mudam o itinerário.
Em meio aos manifestantes, encontramos líderes comunitários e moradores unidos por uma solução.
Algumas pessoas gravaram entrevista e explicaram as dificuldades.
Há muitos jovens que estudam à noite e o trajeto ficou mais complicado.
Sem falar nos pacientes do SUS que têm que andar mais para ir ao médico.
Moradores mais idosos também estariam sendo prejudicados pela medida que entrou em vigor no último sábado.
Gravamos entrevista com os manifestantes e acompanhamos o movimento.
É um tipo de situação difícil.
É claro que os moradores têm que lutar pelos direitos deles, caso considerem que estão sendo prejudicados.
Mas, como ficam os direitos dos motoristas e passageiros que ficaram barrados na estrada?
Temos que ouvir todos os lados.
Este homem de camisa branca estava muito revoltado.
Ele saiu cedo de São Lourenço, no Sul de Minas, para não se atrasar para um compromisso importante.
E acabou parado a manhã inteira, sem ter como voltar ou seguir em frente.
Na entrevista, ele perguntou por que a Polícia Rodoviária Federal estava parada, vendo todo mundo ser prejudicado, sem fazer nada para acabar com o protesto.
Conversamos com os policiais que estavam lá desde o início da manhã.
Eles explicaram que o protesto era pacífico e os manifestantes tinham o direito de protestar.
O uso da violência traria mais complicações do que soluções.
Por isso, três equipes da Polícia Rodoviária Federal acompanharam o movimento.
O Inspetor Lima Correa encabeçou as negociações com os moradores para tentar liberar as pistas.
Este homem de terno preto é o promotor de Andrelândia.
Ele seguia para o trabalho e ficou preso no engarrafamento.
Ao ver a rodovia parada, ele foi até os policiais e perguntou o que estava havendo.
Foi informado e tentou negociar com os manifestantes.
A proposta era liberar a pista de tempos em tempos e voltar a fechá-la.
Assim, o protesto seria mantido e os viajantes não seriam prejudicados.
Os moradores não concordaram e insistiram em manter a ocupação da rodovia.
Eles querem de volta o trajeto antigo, pois facilitava o acesso ao centro.
O movimento começou às 5h30min. e houve queima de pneus.
Por volta de 8h, cansados de esperar, alguns passageiros de ônibus cobraram providências.
Uma empresa autorizou a troca de veículos.
O pessoal juntou as malas e sacolas, passou pela multidão revoltada e esperava seguir viagem sem problemas. Mas, a baldeação foi impedida por moradores que entraram na frente dos veículos para que os motoristas não pudessem manobrar. Policiais Rodoviários Federais tentaram resolver o impasse, mas sentiram que seria perigoso os motoristas saírem e pediram que os passageiros deixassem os veículos. Duas enfermeiras de Juiz de Fora eram esperadas em Lima Duarte e estavam inconformadas. "Eles estão impedindo o nosso direito de ir e vir. Como vou explicar aos pacientes que estão nos esperando que não podemos chegar lá?" reclamou uma delas.
Até o carro do delegado da Polícia Civil de Lima Duarte, cidade vizinha a Juiz de Fora, foi impedido de passar. Depois de muita conversa e negociação, o delegado foi liberado.
O mesmo não aconteceu com um comboio do Exército.
Os militares seguiam para um treinamento e pediram a liberação da pista. Os manifestantes responderam com gritos e o clima ficou tenso. O motorista de um dos caminhões decidiu furar o bloqueio passando pela margem da rodovia. Um morador pulou na frente do veículo e houve tumulto. Apesar dos protestos, o comboio seguiu viagem.
Os manifestantes exigiram a presença de um representante da Agência de Gestão de Transporte e Trânsito, a Gettran.
Quando ele chegou, houve mais gritos e tumulto.
Ele precisou subir num carro para ser ouvido e explicou que estava lá para reunir uma comissão para ir negociar na Gettran.
O grupo decidiu que, mesmo assim, não encerraria o protesto.
Ficou definido que a estrada só seria liberada se a comissão voltasse com um documento assinado pelo Superintendente da Gettran anunciando o fim da mudança nos itinerários.
Só que a comissão voltou com resposta negativa.
Não houve negociação e o protesto continuou.
Foi pedida a presença de um representante do Ministério Público.
O promotor de Meio Ambiente e Urbanismo, Júlio César da Silva, conversou por telefone com o superintendente, Dulcídio Barros Moreira Sobrinho, e não conseguiu acordo.
Ele disse que também não conseguiu acordo com o prefeito.
Júlio César e o vereador reeleito, Isauro Calais, que também trabalha na Defensoria Pública, pediram a liberação da rodovia e disseram que o Ministério Público vai assumir as negociações.
Luiz Barbosa, líder comunitário do bairro Igrejinha, disse que os manifestantes aceitaram a proposta.
Os líderes de todos os bairros que tiveram linhas alteradas se reuniram primeiro com os moradores e só depois confirmaram a decisão de liberar a BR 267.
Mas, eles já avisaram que, se até a próxima quarta-feira não houver acordo, vão fechar de novo a rodovia que é uma das mais importantes de Minas Gerais e tem um movimento em média de 4 mil veículos por dia.
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