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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Rodovias interditadas em Minas Gerais

Por Michele Pacheco

Voltamos às estradas hoje. Nossa pauta era a BR 267, interditada em Argirita.
Em geral, levamos uns 40 minutos até lá.
Mas, desta vez tivemos que usar o desvio sugerido pela Polícia Rodoviária Federal.
Foram 75 km a mais.
Entramos por Coronel Pacheco, seguimos por Goianá, Rio Novo, Guarani, Piraúba, Astolfo Dutra, Dona Euzébia e Cataguases.

Eu não sei o que é pior na estrada. Aqueles loucos que parecem pilotos de Fórmula 1 e passam voando, ou aqueles motoristas que raramente viajam.
Eles ficam com medo de acelerar e cometem outro erro grave: andam muito abaixo do limite de velocidade. Você sai de uma curva e dá de cara com um carro como este, a 40km/h, num trecho onde o limite é de 80km/h. O perigo de acidente é grande.

E ainda tem aquele povo que vê que a estrada está molhada, escorregadia e perigosa e não desiste. Ultrapassa com pouca visibilidade, fecha os outros motoristas, demora para ultrapassar e quase bate de frente no veículo que vem no sentido contrário.
Um festival de imprudência numa época de índices absurdos de acidentes e mortes nas rodovias mineiras. O balanço da Polícia Rodoviária Federal foi de 141 acidentes, com 89 mortos e 1103 feridos. Isso, nos feriados de Natal e Réveillon.

As rodovias no trecho que usamos estão com marcas claras dos estragos das chuvas das últimas semanas. São buracos por toda parte. Em Guarani, um trecho da MGT 120 desmoronou no mês passado e nada foi feito para recuperar a estrada. Os motoristas têm que se espremer em meia pista. Com chuva constante e pista molhada, o trecho desabado fica ainda pior.

Em Leopoldina, paramos primeiro no posto da Polícia Rodoviária Federal.
O Inspetor João Marcus nos atendeu. Ele tinha que parar toda hora para atender os telefonemas de pessoas querendo saber das condições das estradas. Quando o telefone parava de tocar, algum motorista estacionava perto do posto para saber as rotas alternativas. Os veículos pequenos estão passando pelo trajeto que fizemos. Os grandes seguem até Além Paraíba, entram no estado do Rio, seguem por Três Rios até a BR 040 e retornam a Juiz de Fora.

Fomos ao local do problema.
No trevo da BR 116, em Leopoldina, uma cartaz foi pregado numa placa.
Mal dá para entender o que está escrito. Só quando o motorista já entrou no trevo é que ele consegue ler que a pista está interditada.
A BR 267 foi fechada na manhã desse domingo pelo DNIT.

Mais à frente, uma placa informa ao viajante que a rodovia está interrompida no km 283. Com há muitas fazendas no caminho, o distrito de Tebas e o município de Argirita, o tráfego é liberado no trevo. Vimos muitos carros e caminhões entrando na BR 267, apesar dos alertas. Difícil de acreditar que iam todos para a cidade. Ainda mais que as placas eram de outros estados.

A confirmação veio depois do trevo de Argirita.
Os policiais rodoviários federais notaram que a barreira feita com galhos e troncos de árvore estava mexida, indicando a passagem de veículos.
Eles refizeram o cerco e seguiram em frente no patrulhamento.
Ao longe, vimos sinal de um carro que deveria estar a uns 2km a nossa frente e já tinha passado pela área interditada.

Menos de um quilômetro depois do trecho com problemas, o flagrante. O DNIT abriu uma canaleta no asfalto, de um lado ao outro da rodovia para impedir a passagem. Adivinhe o que os espertinhos fizeram? Encheram o buraco com pedras e pedaços de madeira, formando uma espécie de ponte, e estavam passando pela rodovia interditada. Com o perigo de um desabamento total a qualquer momento, ou essa gente é suicida ou muito irresponsável.

Um caminhão e dois carros pequenos estavam parados na beira da canaleta.
Os motoristas disfarçaram ao ver os policiais.
Uns alegaram que só estavam vendo o local, outros diziam que não tinham sido informados da interdição. As desculpas eram todas injustificadas. Primeiro, qualquer um vê que a estrada está fechada. Segundo, há placas sinalizando.
O desejo de ganhar tempo pode acabar em morte.

A BR 267 está cedendo desde a semana passada.
A cada dia, o degrau é maior na estrada.
A pista no sentido Argirita-Juiz de fora já estava interditada.
No sentido contrário ainda dava para passar.
Agora, as rachaduras aumentaram e há degraus no asfalto também no sentido Juiz de Fora-Argirita.

O Robson fez as imagens com cuidado para não pisar muito perto do local onde a pista parece que vai desmoronar.
Esse trecho sempre foi perigoso.
De um lado, há uma ribanceira.
Do outro, uma montanha de pedra com pouca terra e vegetação por cima.
Quando chove, a água infiltra e torna o terreno ainda mais instável que o normal.

Em cada ponto que parávamos para fazer imagens, eu conversava com os policiais sobre o trabalho difícil e contínuo que vão ter até que o problema seja solucionado.
Enquanto estiver chovendo, nem adianta pensar em obras.
E não dá para acreditar que a chuva vá dar trégua. Seria bom demais!

Não há previsão do DNIT para recuperar a estrada.
Qualquer tipo de trabalho lá vai ser complicado.
A terra está escorregando para a ribanceira e pode levar o resto da rodovia.
Até para usar máquinas no trecho é perigoso, já que o asfalto rachou por vários metros antes e depois da área que está desmoronando.

Os policiais tiveram que parar debaixo de chuva para reforçar o bloqueio em cima da ponte que fica a poucos metros do trecho perigoso.
Restos do guard-rail e galhos foram improvisados como barreira na cabeceira da ponte em curva.
Os dois policiais fizeram força para juntar todo o material pesado e dificultar a passagem dos espertinhos de plantão.

E com tudo isso, ainda tem gente que se acha no direito de infringir a lei, invadindo a área interditada para não ter que usar os desvios mais longos que o trajeto normal.
Um motorista de Juiz de Fora achou que conseguiria driblar as autoridades.
Mas, depois de uma curva, a surpresa. Ele ficou frente a frente com o carro da PRF. Dá para imaginar o susto, não dá?

E como explicar aos policiais o motivo de ter desrespeitado duas placas de interdição e uma barreira de galhos e troncos?
O motorista bem que tentou. Primeiro, disse que não conhece a estrada e não sabia onde era o trecho interditado. Não colou, já que o carro é de Juiz de Fora. Depois, disse que passou porque a estrada estava liberada, com a barreira aberta. Também não colou, já que apesar dos galhos terem sido tirados, a placa de proibido passar continua no lugar.

Por último, veio a justificativa de que ele estava com pressa para ir a um enterro.
Pena que o código de Trânsito não prevê alívio para nenhum dos casos citados. Resultado: o motorista foi convidado a deixar o trecho interrompido.
Ele seguiu os policiais até o trevo de Argirita. Debaixo do temporal, ouviu os policiais explicarem pacientemente as leis de trânsito e teve que seguir pelo desvio com uma multa na mão.

O Inspetor João Marcus comentou que o trabalho deles é enorme nessa época.
Além de patrulhar as rodovias da área da equipe de Leopoldina, eles têm que se preocupar com a sinalização nas áreas perigosas.
Se ela não existe, têm que cobrar do DNIT.
Se existe, têm que cobrar dos motoristas o respeito às leis.

Depois de registrar o problema, voltamos pelo nosso caminho.
Em nenhum momento, desde que fomos para a estrada, ficamos sem chuva. Eu estava brincando com o Robson que se não melhorar o tempo, nós vamos mofar ou criar escamas. Oh, época chata para trabalhar. Todo mundo espera ver o repórter arrumadinho no vídeo. Mas, com a roupa e o cabelo molhados, a gente parece mais um espantalho. E a capa de chuva é de uma elegância!!!

Na volta, a chuva apertou e tivemos que seguir com cautela pelos trechos cheios de buracos.
Como a orientação é para desviar por aquele caminho, as estradas normalmente tranqüilas estavam cheias.
Pelo menos, conseguimos passar os piores pontos com o restinho de luz do fim da tarde.
Menos mal, já que buracos e escuridão não combinam nada.
Depois de Coronel Pacheco, respiramos aliviados. Mas, foi cedo demais. A serra do bairro Grama estava congestionada. No escuro e com chuva, a visibilidade ficou comprometida. E, como incomodam os faróis no meio da névoa e da chuva! Mas, temos que comemorar outra missão cumprida em segurança. Posso afirmar com certeza que nossos anjos da guarda estão trabalhando em regime de escravidão nesse verão! Com tantas viagens, ele não cochilou nem uma vez sequer e conseguimos ir a vários locais perigosos em segurança. Que dure!

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