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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O ritual da beleza feminina

Por Robson Rocha

Hoje, a nossa primeira pauta era tranqüila.
Iríamos a um salão de beleza gravar com uma mulher que teve problemas de queda de cabelo depois usar produtos químicos num outro salão.
A matéria estava marcada para as 13h30min. Paramos o carro próximo e fomos em direção ao local.
Chegamos ao salão e a Andrea, personagem da matéria, já nos esperava.

O salão estava cheio.
Sentei no único lugar que sobrava e fiquei aguardando a Michele conversar um pouco com a Andrea e com o pessoal do salão.
Isso era necessário para dar uma orientada de como seria a matéria.
Enquanto isso, eu pensava: essa é a matéria que pedi a Deus!
Local agradável, cheiroso, bem iluminado, com espaço para trabalhar tranqüilo.
E, só precisava gravar um cabelo sendo recuperado.
Além do mais, a segunda pauta era só às 5 da tarde.
Comemorei: hoje vai ser sopa!

Começamos a gravar as entrevistas 13h35min.
Às 13h45min. a Eliene começou a tratar o cabelo da Andrea.
Imaginei que, no muito, em três horas acabaria. Afinal, o meu corte de cabelo dura no máximo vinte minutos.
Mas, levando em consideração que meu pixaim é cortado na máquina e que o cabelo feminino tem um tratamento mais elaborado, calculei uma hora e quinze para o trabalho. Doce ilusão!

De cara, a Andrea foi para os fundos do salão onde teve os cabelos lavados.
Nem eu lavo o meu cabelo com tanta paciência como a Viviane lavava as madeixas da promotora de eventos.
Quando achei que tinha acabado a lavagem, a garota foi em direção a uma prateleira repleta de embalagens, pegou uma, tirou um creme laranja e começou a massagear a cabeça da nossa personagem.

Ela esfregava pra cá, esfregava pra lá.
Quando achei que tinha acabado, ela enxaguou a cabeça da Andrea, pegou outro creme e me disse que o segredo era não enxaguar.
Dessa vez, ela encheu a mão com um creme branco e voltou a massagear os cabelos da cliente.
Lógico que a gente não grava tudo, mas tem que ficar esperando para gravar um pouco de cada etapa.
Eu já estava viajando em um vídeo do Michael Jackson que estava rolando no LCD do salão, quando a menina disse:
- Acabei!
Apontei a câmera e comecei a gravar quando ela falou que o cabelo teria que descansar por 10 minutos.
Eu sabia que gente descansava e que até massa de pão descansa. Mas, cabelo?

Fazer o quê? O jeito era esperar.
Nessa hora, aquele lugarzinho em que eu estava sentado antes, tinha sido ocupado pela Michele.
Que esperava com a cara mais tranqüila do mundo. O que pra mim já era estranho, pois ela está sempre apressada!
Olhei para o outro lado e a mulher que fazia unha continuava com a mão esticada na mesma posição de quando a gente havia chegado.
E, todas as mulheres pareciam acostumadas com aquele ritual lento de beleza.
Aliás, essa é a parte boa, só tinha mulher.
Mas, voltando ao assunto, todas as mulheres com um ar de tranqüilidade que chegava a incomodar.

Mas, passou o tempo de descanso do cabelo e eu voltei a trabalhar.
Nossa personagem voltou para a parte principal do salão se sentou em frente ao espelho.
Meu amigo, foram dez minutos de escova, pente e secador de cabelos atuando.
A Eliene puxava daqui, esticava dali.
Parecia que ia arrancar o cabelo do couro cabeludo.
E, a Andrea parecia nem notar que estava correndo o risco de ficar careca.

Daí, ela mudou de lugar.
Em frente à nova cadeira havia várias mechas de cabelo sobre a bancada.
Eis que o pente entra em ação novamente.
Às duas e quinze, ela começou a colar as tais mechas nas pontas do cabelo da Andrea.
Juro que me assustei.
Pra colar os cabelos elas usam uma tal de prancha, que na realidade parece ferro de solda.
Aquele que a gente usa pra soldar componentes eletrônicos.

Fiz imagens de todos os ângulos.
A Eliene virou pra mim e disse que eu poderia descansar um pouco, pois o processo de implantação ia demorar um pouco.
Não imaginei o quanto fosse esse “vai demorar um pouco”.
Mas, a Michele perguntou e a produtora de visual falou que ia demorar só (ela disse SÓ!) umas duas horas e meia.

O tempo foi passando e eu já não agüentava mais ouvir o Michael Jackson.
Não era culpa dele.
Era porque as coisas em volta de mim pareciam paradas.
A mulher que estava fazendo as unhas continuava lá, do mesmo jeito, assim como todas as outras mulheres que cortavam cabelo ou davam uma tintura.
E, aquilo foi me dando uma agonia...

A saída foi chamar a Michele para tomar um suco enquanto a Eliene implantava os cabelos na nossa personagem.
Nunca tomei um suco com tanta calma na minha vida, tudo pra não ter que voltar rápido para o salão.
Mas, o suco acabou.
A próxima desculpa foi ir até ao carro pegar baterias de câmera.

As desculpas acabaram e voltamos ao salão.
Por sorte, havia um lugar e fiquei sentadinho, quietinho.
Dessa vez dei uma cochilada, que ajudou o tempo passar.
Como não foi suficiente, comecei a ler meus e-mails no celular e, nessa hora, viva os amigos que te mandam piadas.
Comecei a rir e aí as mulheres começaram a me olhar com caras de desconfiadas.
Ainda levei um pito da Michele dizendo para eu rir baixo.
Só não entendi porque só eu tinha que falar e rir baixinho no meio daquele falatório feminino, mas...

Quatro horas e o implante continuava.
Enfim, lá pra quatro e quinze a Eliene disse que tinha acabado.
Ela tinha feito a colocação do cabelo, mas havia ainda mais uma etapa.
A nossa personagem voltou para a cadeira em que estava antes e foi mais uma sessão de puxa e estica com a escova e o secador.

Tenho que admitir que o processo de colocação do cabelo é bem feito, porque se não fosse teria soltado todos.
Ela escovou o cabelo com disposição!
Enfim, depois de três longas horas, acabou!
A Michele pediu para que elas simulassem estar dando os retoques finais para gravar a passagem. Passagem é o momento em que o repórter aparece na matéria.

Acabamos de gravar e parecia que elas tinham acabado de entrar no salão.
Um bate-papo animadíssimo!
Ao fundo, as mulheres continuavam fazendo as unhas como quando chegamos e eu já estava enlouquecendo.
Voltei pro carro pensando: ainda bem que não nasci mulher!
Ritual de beleza, que nada!
Aquilo parece é tortura!
Como é bom o salão de barbeiro do Ubaldo, onde corto meu cabelo desde criança, em poucos minutos!!!

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