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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Acidente grave na BR 267 em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

Vendo a situação do carro, foi difícil acreditar que alguém saiu vivo dele.
Era por volta de nove da noite dessa quarta-feira, quando João de Oliveira, de 63 anos, voltava para casa, na zona norte de Juiz de Fora com a mulher.
Ele perdeu o controle da direção da Caravan numa curva perigosa e o veículo subiu no barranco que fica na margem da rodovia, sentido Lima Duarte-Juiz de Fora.

A violência da batida foi tão grande que o guard rail, proteção metálica na beira da pista, foi arrancado do suporte.
O metal virou uma espécie de lança, invadiu o carro pela frente, deslocou o motor do lugar, empurrou a barra de direção para o colo do motorista e saiu destruindo tudo na traseira do carro.
A barra passou bem no meio dos bancos.

No caminho, o ferro decepou a perna do motorista.
Segundo os policiais rodoviários federais, quando eles chegaram ao local o sangue esguichava da perna do comerciante, dono de um açougue no bairro Santa Cruz.
Os bombeiros prestaram socorro, pararam o sangramento e levaram a vítima para o hospital de Pronto Socorro de Juiz de Fora.

A informação passada pelo hospital no início da tarde foi de que o comerciante passou por cirurgia e estava na sala de urgência, respirando com ajuda de aparelhos.
O estado dele exige atenção.
Parece um milagre, mas a mulher do João, a Maria Aparecida de Sá, de 44 anos, estava no banco do carona e saiu ilesa.
Ela teve apenas arranhões, foi atendida no HPS e liberada.
O banco do passageiro era a única coisa inteira no carro.

Um vizinho do casal foi até o local para ver o estrago e comentou que o comerciante costuma dirigir depois de beber.
E esse não foi o primeiro acidente dele com a Caravan.
"Há pouco tempo, ele atropelou sete vacas de uma vez só.
Fez acordo com o dono e levou o carro para arrumar.
Tinha uma vaca morta em cima do teto do carro.
Ele bebe muito e não liga de sair dirigindo.
Todo mundo já falou para ele ter mais cuidado" contou o homem, lamentando o acidente.

A Polícia Rodoviária Federal encontrou indícios de que o motorista estava acima do limite de velocidade.
Na maioria dos trechos da BR 267, o limite é de 80 km/h.
O velocímetro do carro parou marcando 100 km/h.
O Inspetor Lima Correa observou que, por ser uma curva, o simples fato do acidente ter ocorrido já é um indicativo de velocidade incompatível.
Ele disse que só a perícia pode afirmar as causas exatas do acidente.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Diversão solidária

Por Michele Pacheco

Hoje, nossa tarde começou de forma bem agradável.
A primeira pauta era sobre uma visita de alunos de escolas públicas a um parque de diversões montado em Juiz de Fora.
A idéia era mostrar a reação de crianças e adolescentes nesse passeio gratuito.
Claro que encontramos estudantes com sorriso amplo no rosto, correndo de um lado para o outro, enfrentando filas e aproveitando os brinquedos.

As crianças se encantavam com as cores e formas do carrossel e dos trenzinhos e carrinhos.
Brinquedos mais tranquilos, que não oferecem muitas emoções, mas levam a um mundo de imaginação.
Quem ouvia a música tocando e acompanhava o movimento circular dos brinquedos notava que as crianças estavam num mundo diferente, só delas, em que cada uma criava suas próprias aventuras.
Olhos brilhando e expressões encantadas estavam presentes, para não deixar dúvidas de que estavam adorando tudo aquilo.

Os adolescentes sempre têm aquele ar de coragem e desafio no rosto.
Não querem saber de brinquedos lentos e enfrentam as filas impacientes por um pouco de adrenalina.
E encontram uma boa dose na Barca, no Dancing, no Twister...
Vendo o pessoal girar e gritar sem parar, deu para ter uma noção do quanto o passeio gratuito foi especial.

A idéia de promover entrada de graça de crianças carentes e de alunos de escolas públicas vem desde a criação do Parque Trombini, em 1957.
O Antônio Luiz foi muito gentil em receber a nossa equipe e mostrou a mesma emoção de sempre ao falar sobre o projeto.
Ele é a terceira geração da família a manter o parque e o trabalho voluntário por todas as cidades onde montam os brinquedos.

A gente trabalha tanto em cima de factuais, de tragédias, de sofrimento e violência, que cobrir uma matéria dessas é um presente sempre bem recebido.
Tem gente que acha que jornalista só se sente bem se houver notícias ruins para passar.
É o contrário!
Nós queremos mostrar o lado bom das pessoas, o que elas fazem para ajudar o próximo, cada ação despretensiosa que acaba mudando a vida do outro.
Com certeza, os problemas ocupam um bom espaço nos noticiários.
Mas, boas ações também merecem destaque.
É o que ocorre no Jornal da Alterosa.

No momento em que nossas produtoras Ludmila e Flávia ficaram sabendo da visita ao parque, conversaram com nossa Editora Responsável, Elisângela, que na mesma hora pediu matéria.
Nós fomos animados para a cobertura e tentamos registrar ao máximo a emoção daquelas pessoas.
A Kelly editou com capricho e se envolveu no sentimento coletivo de que aquele assunto merecia destaque.
A matéria ficou legal e encerrou o jornal de forma positiva.

O curioso é que, enquanto buscávamos as melhores imagens, as expressões sorridentes e encantadas das crianças, encontramos um detalhe inesperado.
No meio da fila enorme para o carrinho de batida, estava a Elza.
Com os olhos brilhando de ansiedade, a auxiliar de serviços gerais, de 44 anos, se sobressaía entre as crianças pequenas.
Ela parecia mais animada do que todo o grupo de 1500 alunos de escolas públicas.

Brincamos com a Elza sobre ela voltar a ser criança e parecer mais feliz do que a garotada e tivemos uma surpresa.
Ela estava daquele jeito porque nunca tinha ido a um parque de diversões na vida.
Nascida e criada na zona rural de Divino, interior da Zona da Mata Mineira, não teve oportunidade de se divertir quando era pequena.
Quando a família mudou para Juiz de Fora, ela era adolescente e teve que trabalhar.

O convite para ir ao parque partiu da diretora da escola onde a Elza trabalha.
Foi a realização de um sonho.
A matéria, que era para falar das crianças, ganhou vida nova.
A Elza roubou a cena e foi nosso personagem de maior destaque.
Um simples bate-papo pode render ótimas histórias durante as reportagens.
Essa é uma que não vamos esquecer.
Ela dirigindo o carrinho de batida, os olhos úmidos de emoção ao sair do brinquedo e o depoimento singelo de que esse foi um dia para lembrar eternamente...
São essas as melhores imagens dessa matéria que vamos guardar na memória.

Protesto contra a dengue na zona leste de Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

Os moradores do Vitorino Braga, zona leste de Juiz de Fora, fecharam uma das principais ruas do bairro para protestar contra a dengue.
Revoltados, eles colocaram fogo em pneus.
Alguns gritavam palavras exaltadas pedindo providências das autoridades.
Outros, conversavam com nossa equipe e explicavam que a preocupação é grande e que eles estão pedindo há um bom tempo que alguma ação seja feita numa casa da rua do Monte, onde há indícios de focos do Aedes Aegypti, mosquito transmissor da dengue.

Os policiais militares foram para o local organizar o trânsito que ficou todo confuso bem no horário de saída de escolas e do trabalho.
Os manifestantes disseram que o protesto começou às quatro da tarde, mas os policiais afirmaram que a rua ficou com o tráfego impedido de cinco e meia até seis horas.
Os bombeiros foram chamados, apagaram o fogo e removeram o resto dos pneus queimados para liberar a rua.

Os manifestantes disseram que vão esperar providências nesta quinta-feira.
Se nada for feito, eles vão juntar ainda mais pneus e fazer um protesto maior, fechando ruas estratégicas que levam a vários bairros da zona leste.
É bom lembrar que, em três dias, esse foi o segundo protesto com queima de pneus contra a dengue em bairros de Juiz de Fora.
Na segunda-feira, foi no Jardim Esperança, zona sudeste, que houve protestos com uma enorme coluna de fumaça preta se espalhando pelo bairro e pela BR 267.
Lá, a situação está melhor.
Hoje mesmo, fomos registrar a passagem dos agentes com fumacê pelas ruas e casas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Protesto contra dengue em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

Hoje, nossas duas pautas foram sobre dengue.
A primeira foi uma reunião convocada pelas secretarias municipais de Saúde, Atividades Urbanas e Educação.
O objetivo foi anunciar a união de forças contra a dengue.
Servidores municipais e lideranças comunitárias lotaram o teatro do Pró-música.

As autoridades passaram dados sobre a doença, que atinge um recorde histórico na cidade.
Já são 2154 notificações e 1296 confirmações.
Segundo a secretária de Saúde, Maria Ruth, Juiz de Fora vive uma epidemia leve.
Mas, antes que a situação fuja de vez ao controle, várias estratégias vão ser usadas.

Uma delas é a punição de quem não colabora com as ações preventivas.
Donos de terrenos que tenham focos de dengue podem ser multados.
Uma discussão na reunião foi quanto aos lotes e terrenos fechados ou abandonados.
Com a dificuldade para se localizar os donos, fica difícil saber a quem enviar a multa.

Saímos da reunião e fomos avisados por um amigo da polícia militar, que está sempre bem informado, de que havia um protesto de moradores contra a dengue no Jardim Esperança, zona sudeste da cidade.
Esse policial é um exemplo de profissional que está sempre atento a tudo o que ocorre ao redor dele, em todas as companhias.
Sujeito operacional e ágil para lidar com os casos que pega.
Só não cito o nome dele aqui, para não criar problemas para ele.

Bem, voltando à informação, fomos correndo para o local.
De longe, dava para ver a coluna alta de fumaça preta, indicando o ponto onde pneus estavam em chamas.
Os moradores fizeram uma barricada na principal rua do bairro, no trevo com a BR 267, e colocaram fogo.
Acho que nem eles imaginavam que a situação fosse ficar tão complicada.
A fumaça preta se espalhou rápido e o calor era intenso.

Policiais Militares da 135a Companhia estavam à postos, de forma pacífica, acompanhando o desenrolar do protesto.
Os moradores reclamaram que há muitos casos de dengue no bairro e que não estão sendo bem atendidos no posto de saúde.
Os pacientes com sintomas da dengue têm que ir a outros postos para receber atendimento, o que piora a situação deles.
Entre os manifestantes, encontramos dezenas de casos de pessoas que estão com a família inteira doente.

Os líderes da manifestação estavam muito revoltados com o que chamaram de descaso da prefeitura com o Jardim Esperança.
Eles mostraram vários pontos onde há lixo e entulho acumulados.
Reconheceram que falta cuidado por parte de alguns vizinhos e reclamaram que o poder público demora muito para atender aos apelos por capina e limpeza.
Em meio à fumaça sufocante, eles gritavam pedindo outro tipo de fumaça, a dos carros fumacê.

Quem vê uma matéria dessas no ar, só enxerga o lado jornalístico dela, as imagens fortes dos pneus queimando, a revolta dos moradores...
Mas, esse é o tipo de trabalho que os jornalistas suam para fazer. Literalmente!
O Robson precisou ficar o tempo todo perto do fogo, flagrando os moradores alimentando as chamas, o risco das labaredas se espalharem pela vegetação próxima e de alguém se queimar em meio à confusão.

No início, a adrenalina típica das matérias factuais toma conta da gente.
Não dá tempo de pensar que vamos ficar parecendo dois pernis defumados: vermelhos e cheirando a queimado.
Aos poucos, os olhos começam a lacrimejar, a bochecha exibe uma cor estranha, mistura de vermelho do calor e preto da fuligem.
Como boa flamenguista, não tenho nada contra rubro-negro!
Mas, como repórter tenho alguns problemas.
Haja pó compacto para disfarçar as manchas.
Escova, então?
Só com muita paciência.
O vento joga o cabelo para todo lado e a fumaça gruda nele como chiclete.

Resultado: nada da elegância e do glamour que tanta gente acha que cerca a vida dos repórteres. Por dentro do blazer, a gente sua em bicas perto do fogo.
A roupa limpinha ganha um odor de fazer inveja a qualquer churrasqueiro.
E o cheiro de pneu queimando é horrível.
Parece que fica impregnado no nariz da gente por vários dias.

Outro tipo de matéria que acaba com qualquer tentativa dos repórteres parecerem apresentáveis é a de demolição.
Na semana passada, acompanhamos o trabalho de funcionários da Secretaria de Obras e da Defesa Civil.
Eles se preparavam para demolir dois prédios, um de dois e outro de quatro andares, e duas casas no bairro São Sebastião.
Os prédios já abrigaram projetos sociais e esportivos e estavam abandonados há sete anos.
As casas foram condenadas no início do ano, depois do desabamento no Reveillon que matou três pessoas na rua de baixo, no bairro Cesário Alvim.

Bem, todo mundo a postos e nós também.
O Robson escolheu os melhores ângulos e se preparou para registrar as demolições.
Eu peguei nossa máquina fotográfica e fui garantir fotos para o blog.
Mais uma vez, a adrenalina é uma armadilha.
A gente se empolga vendo o operador da escavadeira arrancando paredes e lajes e nem percebe onde se meteu.
Quando os escombros batem no chão, a nuvem de poeira engole tudo em volta.
Incluindo os jornalistas bem posicionados perto do fato.

Nem preciso dizer que foi o nosso caso.
Esperto, o Robson ficou numa posição que garantia menos poeira.
Mesmo asssim, depois de fazer as imagens, ele me olhou e notei que parecia um urso panda: todo o rosto estava amarelado de pó, exceto uma roda em torno do olho direito, que fica escondido no view finder da câmera.
Eu, empolgada com as imagens e lutando com o foco, só tinha olhos para os prédios sendo demolidos.
Uma meia hora depois, eu já não tinha olhos para mais nada.
Uso lentes de contato e elas adquiriram uma tonalidade leitosa, entre o amarelo e o marrom.
Até para piscar estava difícil, com tanta poeira agarrada nas lentes.

Ventava muito naquele dia e eu lutava para tentar manter os cabelos na cabeça.
Eles pareciam querer levantar vôo.
Agora, imagine você, com cabelos abaixo do ombro, numa dança frenética estilo Medusa, com poeira vindo de todo canto e com uma escovinha linda e portátil que cabe na palma da mão.
A pobrezinha ainda estava presa no primeiro punhado de cabelos, quando o Robson veio todo animado perguntando se eu queria gravar teaser.
Claro, por que não?
Com os cabelos quase domados (e olhe que eles são lisos!), a pele coçando de poeira e os olhos arranhando como se tivessem areia, me posicionei e gravei.

Depois, voltei para a nobre função de fotógrafa.
Notei que o Robson tinha mudado de lugar e estava no alto da rua.
Bem que tentou me avisar, disse que era melhor tirar foto lá de cima, mas...
Na hora, pensei que ele iria perder o melhor ângulo e não arredei o pé de onde estava.
Máquina ligada, dedo no gatilho, pronta para disparar e registrar o prédio maior caindo.
A escavadeira foi levada para perto das pilatras e foi quebrando com cuidado uma a uma.

Depois de uns dez minutos, um estrondo indicou que a laje do quarto andar tinha ido parar no terceiro.
Aí, entendi a mudança do Robson.
O deslocamento de ar jogou uma nuvem densa de poeira em cima de mim.
Quando parei de tossir e espirrar, notei que nossa pobre maquininha parecia ter saído de alguma escavação arqueológica.
E como uma relíquia recém desenterrada!

Depois do material gravado, voltamos para a TV.
Eu, com os cabelos meio ruivos, meio loiros de pó, com o blazer todo desenhado pela poeira e chorando sem querer por conta das lentes arenosas.
Mas, no ar o resultado valeu a pena.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Apreensão de material roubado em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

Os policiais militares da 31a Companhia receberam um chamado do COPOM para atender uma briga de casal.
Eles chegaram ao local, acalmaram os ânimos e foram levar os dois envolvidos para o Hospital de Pronto Socorro, para cuidar dos arranhões conseguidos durante os tapas e beijos da discussão.
Mas, ninguém contava com a veia vingativa feminina.

Bem, que dizem que mulher ferida ou ofendida é perigosa.
O cara não acreditou nisso e se deu mal.
Revoltada com a discussão, a mulher encontrou o jeito certo de se vingar.
Abriu a boca e contou aos policiais que o companheiro era o responsável por uma série de furtos e roubos na região nordeste da cidade.
O sujeito ficou sem saída e acabou confessando os crimes. Ele ainda levou os policiais às casas dos receptadores.

Ao todo, sete pessoas foram presas.
Entre o material apreendido, estavam três TVs, microondas, botijão de gás e inúmeros aparelhos eletro-eletrônicos, além de cristais e um carrinho de bebidas antigo.
O material foi encaminhado para a perícia e poderia ser devolvido aos donos que tivessem como provar a posse dos objetos.

domingo, 4 de abril de 2010

Semana Santa - cobertura diferenciada

Por Michele Pacheco

Cobrimos a Semana Santa em São João del Rei há tantos anos, que já sabemos cada detalhe das celebrações e a duração delas.
Isso, com certeza, nos ajuda na hora do trabalho.
Sabendo o que vai ocorrer, e quando, a gente pode aproveitar melhor o tempo e pensar em algo diferente que ainda não tenha feito nesses 14 anos de Alterosa.

Neste ano, o Robson queria testar o kit de correspondente que ele montou.
Viajamos com o equipamento da TV, mas levamos na bagagem nossa câmera, nosso notebook, placa de captura e uma infinidade de cabos.
A idéia era treinar o envio de materiais por FTP.
A gente sabia que daria trabalho, mas queria tentar.

Para não prejudicar o jornal com as nossas estripulias, garantimos duas matérias em média por dia.
Elas eram feitas nas celebrações da noite e no movimento de turistas pela manhã.
Como nosso jornal agora é às 19h, não adiantaria fechar matérias sobre as cerimônias para o dia seguinte apenas com o factual.
Ficaria velho.
Por isso, priorizamos o uso de personagens, os vts de comportamento.
Não pedimos pautas à produção, porque já tínhamos uma idéia do que queríamos fazer.

Gravamos os eventos à noite, acordamos cedo e fizemos materiais novos.
Depois, corremos para a rodoviária e despachamos as fitas Beta para Juiz de Fora, a tempo de serem editadas.
Aí, era o nosso período de aprontar.
Após o almoço, a gente definia o que podia fazer com nosso equipamento durante a tarde.

No quarto do hotel, o Robson montou um mini escritório.
Eu digitava os textos e enviava por e-mail para a TV.
Bolava os flashes que seriam enviados por FTP e mandava para aprovação da nossa editora, Elisângela Baptista.
Com o retorno dela, a gente calculava o tempo necessário para a gravação e o envio, sem colocar em risco todo o jornal.

Como o tamanho influi diretamente no tempo necessário para o envio, optamos por abertura atualizando + off enviado pelo e-mail mais cedo para ser editado com imagens do ano anterior + encerramento sobre o evento da noite.
A abertura e o encerramento eram gravados por volta de seis da tarde.
O texto não podia ter mais do que 20 segundos na abertura e 15 segundos no encerramento, para não atrapalhar o esquema definido.
No primeiro dia, eu acabei me alongando ao responder à pergunta que a Elisangêla tinha feito e só a abertura ficou com 35 segundos.
Quase fui estrangulada pelo Robson!

Aprendi a lição: tinha que ser curto.
A demora no primeiro dia nos levou a entrar com áudio-tape em vez dos flashes previstos por FTP.
No segundo dia, já estávamos mais escolados.
O Robson fazia as imagens com nossa câmera digital, capturava as imagens na ilha improvisada na tampa traseira da Parati, editava e enviava por FTP.

Eu nem me arriscava a abrir a boca quando ele estava concentrado no computador.
Como se não bastasse o processo ser lento, a internet em São João del Rei não colaborou muito.
O Robson levou nosso 3G da Claro, que parecia funcionar à manivela.
Meu marido ficava roxo, azul, esverdeado e voltava a um colorido vermelho fúria num piscar de olhos.
Acho que ele deve ter rezado um bocado para o material seguir sem problemas.
E vocês acham que eu ainda me arriscaria a dizer alguma coisa? Nem pensar.

Depois do desafio superado, ele se acalmava e até sorria de alívio.
Material enviado, era hora de esperar o jornal entrar no ar.
Levamos no nosso Kit correspondente nossa TV para ligar no carro.
Assim, enquanto esperávamos a celebração da noite, aproveitávamos para ver o jornal.
A Kelly Scoralick e o Eduardo Dutra quebraram nosso galho e capricharam nas edições, dando ao jornal um ritmo dinâmico, mas com muito charme e beleza.
O Daniel Torres foi nosso anjo da guarda, agilizando o recebimento e a captura do material enviado por FTP.

No último dia, fizemos tudo que foi combinado e o Robson estava até alegrinho.
Acompanhou tranquilo o trabalho do pessoal que ajeitava os últimos detalhes para a celebração mais emocionante da Semana Santa de São João del Rei, o Descendimento da Cruz.
Até que um policial parou do nosso lado e perguntou se nós estávamos conseguindo sinal da Vivo. Olhou o computador e perguntou como estávamos conseguindo trabalhar, já que a internet estava lenta o dia todo.
Meus cabelinhos da nuca arrepiaram!

As bochechas do Robson ficaram numa tonalidade entre o beterraba e o vinho tinto.
Achei que ele fosse ter um chilique.
Imagine a cena.
O pobrezinho sentado no alto da escadaria da Igreja das Mercês, com o notebook cozinhando os joelhos dele, sem nem respirar, com medo de perder a boa posição para o envio e... vem essa bomba!
Ele rosnou alguma coisa sobre nem querer pensar na possibilidade de ficar sem sinal de celular. Afinal, se o FTP, que nesse momento viajava lentamente pelos mistérios da rede, falhasse, eu teria que entrar com áudio-tape.

Dito e feito!
Parece que o policial estava prevendo.
A rede ficou tão lenta que não adiantou insistir.
O jeito era o áudio-tape.
Mas, depois de três tentativas, eu ainda não conseguia ficar na linha com Juiz de Fora.
Eles me ligavam, a gente modulava e a ligação caía.
Depois de muito sufoco, conseguimos entrar sem problemas.
Quem está em casa, nem sempre faz idéia do que passamos nos bastidores.

Eu e o Robson nos despedimos da Semana Santa com matéria sobre o Descendimento da Cruz e a Procissão do Enterro.
No sábado, passamos em Prados para acompanhar o Ofício de Trevas e voltamos para casa.
Apesar do estresse, valeu a pena arriscar e descobrir que a gente pode fazer uma cobertura diferenciada usando imaginação, boa vontade e trabalho em equipe.