Sempre fui sensível a matérias que envolvem crianças.
Agora que estou grávida, a situação é pior.Nesse fim de semana, estávamos fazendo uma matéria no centro de Juiz de Fora e paramos o carro atrás do Cine Teatro Central.
Quando voltamos da entrevista, eu e o Robson reconhecemos uma menina que foi flagrada por ele vendendo bala debaixo de chuva no Natal.
Adivinhem o que ela estava fazendo?!
Quatro mulheres estavam sentadas na sombra, atrás do teatro, rindo e se divertindo.
Quando nos aproximamos do carro, elas tinham acabado de receber dinheiro de um grupo de 10 crianças e estavam repondo balas e chicletes nas caixas que meninos e meninas vendiam debaixo de um sol de mais de 30 graus.O Robson resolveu registrar mais uma vez o flagrante.
Ao ver que estavam sendo gravadas,
duas mulheres foram saindo de perto.Outras duas ficaram para trás xingando e fazendo gestos obscenos.
Fiquei de longe vendo o barraco no meio da rua.
Uma loira era a mais agressiva.
Surpreendentemente,
ela é a mesma mulher que o Robson flagrou no Natal, fazendo lanche numa galeria enquanto recebia o lucro do trabalho infantil.Duas meninas molhadas de chuva iam de um lado para o outro vendendo balas e davam o dinheiro para a dita cuja escorada na galeria.
Dessa vez, não aguentei ficar só vendo.
Peguei o microfone e fui até as duas adultas perguntar o que levava uma pessoa a explorar o trabalho de uma criança.A loira desbocada desfiou mais um rosário de palavrões de fazer inveja ao mais aguerrido integrante de torcida organizada e foi saindo.
Perguntei por que ela colocava as crianças para trabalhar e pedir esmolas debaixo do sol forte.Ela respondeu que não tinha nada para falar sobre isso.
Perguntei se ela achava justo e, pasmem, ela ficou quieta.
Fui até a outra mulher e perguntei a mesma coisa.
Ela ficou agressiva e perguntou se eu arranjaria um emprego para ela.Perguntei se o desemprego dela justificava colocar as crianças para trabalhar num calor daqueles.
Ela perguntou gritando se caso elas não trabalhassem eu iria sustentá-las.
Eu quis saber se ela já tinha pedido ajuda a alguma autoridade e a resposta foi que já, mas que ninguém fez nada.Por fim, a mulher se justificou dizendo que para criticar tem muita gente, mas para ajudar são poucos.
Não deixa de ser verdade.
Mas, não justifica explorar o trabalho infantil.Quando eu voltava para o carro, a loira me parou no caminho e mandou que eu cuidasse da minha vida em vez de ficar atrapalhando a delas.
Aí, não deu para aguentar.
Pensei que podia ser a minha filha caindo nas mãos daquelas mulheres.
Odeio barraco, mas não resisti a discutir com ela.Resumindo, perguntei por que então ela não trabalhava em vez de passar o dia sentada na sombra, às gargalhadas, explorando crianças.
Nem preciso dizer que a resposta veio em forma de guinchos estridentes e furiosos.
As duas deixaram o local iradas.
Na esquina, as crianças quase foram atropeladas.Vários comerciantes e pedestres que acompanharam toda a cena me pararam para contar que a presença do grupo é frequente nas ruas do centro.
As crianças passam horas vendendo balas e mendigando enquanto as adultas vigiam de longe.
Alguns foram mais longe e contaram casos em que os meninos e as meninas entram nas lojas para oferecer os produtos e acabam furtando algum objeto do comércio ou dos consumidores.Até os catadores de papel têm sido vítima deles.
Aí, eu me pergunto.
Cadê as autoridades?
Na primeira denúncia, em dezembro, o Jornal da Alterosa ouviu o Conselho Tutelar.Os conselheiros receberam uma cópia das imagens e se comprometeram em investigar o caso e cobrar providências.
Lembrem que na época eram duas mulheres com três crianças.
Agora, são quatro mulheres com 10 crianças.No ritmo em que as soluções estão sendo procuradas, muito em breve o grupo vai ser ainda maior.
Será que esses menores de 14 anos estão indo à escola e tendo cumpridos os direitos garantidos pelo ECA?
Será que sobra tempo para isso?
Sei que a questão é social e que muitas pessoas estão desempregadas.
Mas, não acho que isso seja razão para explorar uma criança.Se falta emprego, acho que o trabalho só depende da boa vontade de quem precisa.
Afinal, se todo catador de papel pensasse como essas duas mulheres,
eles não estariam enfrentando sol e chuva para revirar lixo em busca de sustento.E os vendedores ambulantes?
Quantas pessoas ganham um troco vendendo doces e outras coisas nos sinais.
Por que aquelas quatro não tentaram esse caminho?
O Jornal da Alterosa exibiu hoje a reportagem e voltou ao Conselho Tutelar.
O responsável explicou que o caso foi apurado e um pedido foi enviado ao Ministério Público para que tome as providências necessárias.Quanto às responsabilidades do Conselho, a explicação foi que o poder de atuação dele vai só até certo ponto e que agora as providências dependem do MP.
Agora, só falta ouvir a Juiza da Infância e da Juventude.A TV Alterosa passou o dia tentando, mas não conseguiu ser recebida até agora.
Tomara que amanhã seja outra história.
Pelo bem daquelas crianças.

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