No último texto sobre a cobertura da chuva no Sul de Minas, em 2000, terminei falando do imprevisto na entrada ao vivo de Pouso Alegre. Depois do almoço, tivemos uma reunião no restaurante para dividir o trabalho. A equipe de Varginha preferiu continuar com o governador Itamar Franco. Assim, ficamos livres para ousar.
Conversando com os técnicos de Varginha, descobrimos que eles conheciam um atalho para Santa Rita do Sapucaí. A cidade estava isolada por inundações e quedas de barreira e as autoridades e a imprensa só conseguiam entrar de helicóptero. A tentação foi grande demais e decidimos arriscar. Com a nossa Parati 93, seguimos a pick-up da técnica por uma serra íngreme e escorregadia.
Em alguns trechos, o pessoal parava para nos esperar, achando que não conseguiríamos. Mas, a gente não iria largar aquele osso suculento por nada! Paramos no alto da serra, onde os técnicos Edson (de BH) e Eduardo (de Varginha) ficaram para virar a antena e garantir a entrada ao vivo de Santa Rita, assim que a nossa equipe chegasse lá. Seguimos a pick-up do João Mário, responsável técnico da TV Alterosa no Sul de Minas, e chegamos à cidade. As pessoas nos olhavam como se tivéssemos descido de um disco voador e queriam saber como tínhamos conseguido ultrapassar as quedas de barreira e as dificuldades da serra.
Pegamos o equipamento e nos posicionamos na praça central que estava inundada. Pelo rádio transmissor, ouvíamos todo tipo de xingamentos vindos da torre. O Edson estava sendo atacado por marimbondos.
Eu e o Robson ficamos posicionados, com água no joelho, à espera do sinal para a entrada. Pelo ponto ligado ao celular, a gente passava o tempo conversando com o Miltinho, Diretor de TV, que estava em BH. Entre uma brincadeira e outra, eu debochava que havia peixinhos na minha bota e o Robson falava mais um monte de besteiras. O que a gente não sabia era que o Camilo Teixeira da Costa, diretor da TV Alterosa estava na cabine, ouvindo tudo! Veio o sinal esperado e entramos ao vivo. No flash, fiz questão de lembrar que fomos a única equipe de reportagem a entrar por terra na cidade depois da tromba d´água e isso se devia à competência da nossa equipe técnica.
No dia seguinte, a decisão foi de que faríamos uma entrada ao vivo no Jornal da Alterosa, direto da estrada. Os técnicos foram cedo buscar um local que desse para fechar o sinal com a torre e montaram tudo. Chegamos quarenta minutos antes da entrada (a teimosia do Robson nos deixou presos por um bom tempo num trecho alagado!) e encontramos o Edson desarvorado, com o equipamento montado perto de um ponto com água cobrindo todas as pistas da estrada e nenhum caminhão à vista. Ele nos olhou e disse “eu juro que havia um monte de caminhões parados aqui. Escolhemos o lugar porque o pessoal estava preso, sem conseguir passar pelo trecho alagado. Mas, há cinco minutos, eles decidiram arriscar e foram todos embora. Só temos 100m de cabo e não dá para chegar aos que sobraram”.
Olhei em volta e vi alguns caminhões parados uns 500 metros antes. Corri até eles e implorei por ajuda, pedindo que puxassem os veículos para perto do nosso equipamento. Três caminhoneiros que estavam almoçando se sensibilizaram com o nosso problema e concordaram.
Voltei correndo, enquanto eles ligavam os caminhões e contei o que tinha conseguido. Combinamos com o primeiro motorista que chegou o que seria perguntado e nos posicionamos. Esperei o contato com Belo Horizonte, posicionada na estrada, tentando recuperar o fôlego, sem texto escrito (na correria, não deu tempo de parar para escrever) e rezando para dar tudo certo. Veio a deixa dos apresentadores, improvisei, descrevendo o problema que os motoristas enfrentavam e fui me encaminhando até o entrevistado. Imaginem o susto que levei ao ver a estrada vazia. Enquanto eu conversava com os apresentadores, o que passava pela minha cabeça é que eu estava frita! Mas, um movimento num canto me chamou a atenção. O caminhoneiro tinha montado uma cozinha improvisada e estava debaixo do caminhão cozinhando! Nem parei para pensar e disse que quem ficava preso tinha que improvisar, agachei e fui entrando debaixo do veículo. Conversei com ele, saí e encerrei o vivo. Estava comemorando, agradecendo ao caminhoneiro que foi uma estrela e salvou o nosso trabalho, quando vi o Robson com cara fechada e um vergalhão na testa. Quando eu entrei debaixo do caminhão, ele não teve escolha e me seguiu. Mas, com 1m e 90cm, ele não passou e bateu com a cabeça na carroceria. Definitivamente, as entradas ao vivo são imprevisíveis. E por isso mesmo, tão divertidas.
Um comentário:
Michele, sem dúvida é por estas e outras que nossa profissão sempre valerá muito a pena!! Mais importante que a matéria é o registro da "cabeçada" do Róbson!! Abraços amigos e parabéns pelo trabalho!
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