Nosso trabalho tem a vantagem de nos mostrar muitas verdades, que ficaram escondidas e que mostramos no dia-a-dia.
Algumas matérias acabam nos marcando pelas histórias e pelas imagens que encontramos.
Nossa região possui vários locais com histórias interessantes. E um deles é o Museu da Loucura em Barbacena.
Quando estive lá pela primeira vez, fiquei um tanto assustado. Quando entramos havia vários pacientes andando pelo jardim. Eles ficavam nos olhando, eu os cumprimentava e eles me ignoravam. Parecia que eu não estava ali, apesar deles me encararem. Outros tinham um olhar distante. Mas havia um que me incomodava. Ele andava de um lado para o outro, em uma calçada de uns 3 metros, na entrada do museu, sem parar. Isso segundo a enfermeira, era o dia todo.
Do lado de dentro, o cheiro era ruim. Alguns tentavam conversar, mas simplesmente eu não entendia quase nada. Parecia que éramos seres de planetas diferentes.
Voltei lá outras vezes, mas não encontrei os pacientes e a equipe não pôde mais entrar no hospital.
O Hospital foi criado em 1903 e instalado em um antigo sanatório para tratamento de tuberculosos, nas terras da Fazenda da Caveira que, no século 18, pertenceu a Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira. Na época, ia para Barbacena quem estivesse no pior estágio da loucura. No início do século 20, logo após a inauguração do Hospital, chegava à cidade o famoso “Trem de doidos”, lotado de pacientes de todos os cantos do Brasil. A demanda ia sempre aumentando, visto que Barbacena era referência e acolhia a todos que chegavam: alcoólatras, sem tetos, portadores de deficiência física e os chamados “loucos”. Todo ser humano que tivesse algum “desvio” era mandado para lá. Se fosse hoje, quantos jornalistas estariam lá?
Quando os pacientes vinham para Barbacena, às vezes enviados de outros hospitais psiquiátricos, já sabiam que estavam condenados à prisão perpétua. Dali não sairiam nunca mais.
Mas visitando o Museu da Loucura, que ocupa o espaço do torreão do antigo hospital, o susto foi maior, são vários equipamentos de tortura e fotos em que os internos parecem pedir socorro. Daí lendo os documentos você descobre que mais de sessenta mil pacientes morreram ali. Existem registros de que muitos corpos foram vendidos para universidades.
E uma das histórias mais pavorosas conta que era prática normal no hospital o método de “desencarnar” os mortos, o que consistia em colocá-los em tonéis com ácido para tirar-lhes a carne e vender os esqueletos às faculdades de medicina.
Muitos internos participavam desse trabalho, “desencarnando” seus colegas mortos e muitas faculdades de medicina, em todo o Brasil, compravam os cadáveres de Barbacena para abastecer seus laboratórios de anatomia.
O jornal Estado de Minas de 28 de agosto de 1979 denunciou o que chamaram de “DEPÓSITOS DE LIXO HUMANO”.
No dia-a-dia, os mais rebeldes ou aqueles que cometiam algum ato considerado pelos funcionários como insubmissão eram mantidos presos em celas gradeadas, algemados pelos pés e mãos, contidos por várias técnicas e métodos diferentes. Passavam por sessões de eletro-choque, das quais saiam mortos ou com dentes e ossos quebrados. O hospital possuía um centro cirúrgico no qual eram realizadas as psicocirurgias. A leucotomia e a lobotomia, procedimento que consistia na incisão nos lobos frontais para desconectar as fibras nervosas, dessa região, do resto do cérebro. O procedimento transformava pacientes agressivos em pessoas calmas e apáticas.
Em 1979, o conhecido psiquiatra italiano Franco Basaglia visitou o Hospital Colônia de Barbacena e o comparou aos
campos de concentração nazistas de Adolf Hitler.
Hoje, os tratamentos mudaram, mas vale a pena conhecer este
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