Quem somos

Minha foto
JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

sábado, 12 de janeiro de 2008

Dieta Infalível

Por Michele Pacheco

A profissão de jornalista contraria todas as regras da boa nutrição.
Quantas vezes fomos trabalhar imaginando ter um dia normal de serviço e tivemos que viajar às pressas ou estourar o horário em função de alguma matéria complicada de última hora. Lembro de quando entrei na TV Alterosa, em 97. O ex-presidente Itamar Franco estava em Juiz de Fora e muito se especulava sobre o destino político dele. Resultado: plantões e mais plantões na porta do edifício onde ele morava, no centro da cidade. Algumas vezes, chegávamos por volta de oito da manhã, ficávamos à espera de alguma informação dos assessores e só no fim da tarde conseguíamos a entrevista. Arredar o pé poderia ser um problema, já que o ex-presidente era imprevisível. Passava a manhã toda informando que não atenderia a imprensa e, sem mais nem menos, aparecia e falava com quem estava na porta. Assim, as chefias de todas as redações passavam a mesma ordem: fiquem até o fim. O difícil era encontrar posição para ficar na espera. Os canteiros da entrada do prédio já tinham sido tão judiados de plantões da época em que Itamar era presidente, que o condomínio colocou uma mureta vazada, cheia de ganchinhos que nos torturavam. Com dor ou não, cada milímetro de canteiro era cobiçado. Até rodízio a gente fazia. Na hora do almoço, vinha o dilema. Quem tinha mais equipes providenciava a rendição. No nosso caso, éramos só eu e o Robson. O jeito era apelar para o fast food. O McDonalds faturou um bocado às nossas custas.

Por falar na lanchonete, demos um susto uma vez num atendente. Trabalhamos pela manhã e já estávamos contando os minutos para o horário terminar e irmos almoçar, quando veio a notícia de tumulto no cadeião de Juiz de Fora. Corremos para o Ceresp e ficamos na porta esperando notícias. Para nosso azar, a barraca de lanches que funcionava em frente estava fechada. Solução: fast food! Perguntei aos colegas quem estava interessado num lanche, anotei os pedidos e fui para um canto de um barranco onde o sinal de celular era um pouco melhor. Eu me contorci toda para conseguir falar bem. O atendente anotou o monte de pedidos, avisei que as notas deveriam ser fechadas em separado e ele perguntou o endereço para a entrega. Quando eu disse que era no Ceresp, o homem virou uma onça! Disse que eu estava atrapalhando o serviço dele, que trote era coisa de gente à toa... Meu estômago roncando, o pescoço doendo, o pessoal cobrando... Perdi a paciência. Expliquei que eu estava desde as sete da manhã trabalhando, em jejum, que eu era funcionária da TV Alterosa e que se ele tinha dúvidas, que ligasse para a empresa e confirmasse. O cara ainda ficou na dúvida, mas pegou o número da TV. Alguns minutos depois, eu tornei a ligar e ele disse que iria liberar o pedido. Esperamos uma hora e meia! Eu já estava achando que eles tinham desistido, quando o pessoal da PM veio debochando que a minha entrega estava barrada na entrada do Ceresp, na parte de baixo do morro. Um motorista de um jornal se ofereceu para descer de carro e buscar, já que à pé era muito longe. Enfim, comemos os sanduíches frios e as batatas murchas como se fossem manjares dos deuses.
Rebeliões são sempre um atentado contra o nosso estômago.


Durante a rebelião na Penitenciária Arioswaldo Campos Pires, em Juiz de Fora, eu e o Robson passamos as cinco noites na porta da unidade. Além do frio intenso, enfrentávamos a fome. Depois de sofrer na primeira noite, nós ficamos espertos. Sempre levávamos biscoitos, água e até uma garrafa térmica com chocolate quente. Como equipes de jornais, da outra emissora de TV e das rádios nos acompanhavam nos plantões noturnos, a gente sempre dividia alguma guloseima. Teve uma noite, que resolvemos pedir uma dobradinha com feijão branco, de um restaurante que adoramos. A entrega foi rápida. Mas, ao abrir as sacolas descobrimos que não tinha colher! O Robson não pensou duas vezes. Passou a mão no pão de alho que eu pedi e foi até a guarita. Pediu socorro a um policial e trocou meu pãozinho por duas colheres emprestadas. Com a fome que eu estava, nem me importei!


A última desventura gastronômica que tivemos foi durante a invasão da reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora. Só para variar, ficamos sem almoço. O repórter Bruno Sakaue, da TV Panorama, foi o anjo da vez. Ele disse que iria comprar alguma coisa para comer e perguntou quem queria algo. Cada um fez seu pedido e lá foi ele. O problema foi que por perto só tinha restaurantes e nenhuma lanchonete aberta. Como comer em marmita de alumínio sem talheres?! Por fim, cansado de procurar ele voltou. Eu tinha pedido um pão de queijo e água, mas ele só encontrou a água.


O Robson e o Humberto Nicolini, fotógrafo, pediram uma coxinha cada um. Mas, na confusão na hora de comprar, o Bruno levou só uma e entregou o saquinho ao Nicolini, achando que tinha duas e que ele iria entregar a do Robson. Moral da história, O Robson "almoçou" uma garrafa de refrigerante e assim foi com o resto da imprensa. Felizmente, existem aquelas viagens em que a gente se farta com as delícias de Minas. Mas, isso é uma outra história!

Nenhum comentário: