Por Michele Pacheco
No fim de setembro, recebemos uma pauta sobre um adolescente que queria ser artista.
Fomos à casa da família dele, no bairro Santa Luzia, zona sul de Juiz de Fora.
No local simples, encontramos os pais, Joaquim e Maria Aparecida, sem jeito, pedindo desculpas pela casa humilde e a falta de estrutura.
Na sala, poucos móveis. Nas paredes, os tesouros da família: quadros pintados pelo Jean, de 13 anos. Os pais e familiares começaram a notar o talento dele para artes aos 5 anos de idade.
O menino se destacava nos trabalhos de desenho e pintura da escola.
Sem condições de pagar bons professores e comprar o material necessário para que o filho pudesse testar de todas as formas o dom que tem, os pais não desistiram.
Em vez de ficar lamentando a vida que não deu condições financeiras melhores à família, eles começaram a procurar ajuda com vizinhos e conhecidos.
E conseguiram bolsas de estudo para o Jean.
Ele tem aulas num ateliê da cidade e freqüenta a Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras.
O material que usa foi doado. Na primeira reportagem, vimos que, numa caixa de ferramentas improvisada, ele guardava tintas velhas e ressecadas e alguns pincéis. Para a maioria das pessoas que pintam, aquilo seria motivo de reclamação, de insatisfação.
Mas, para o Jean eram o bem mais precioso que ele tinha.
Fiquei comovida ao ver o adolescente mostrar feliz que cada um daqueles objetos significava o carinho de alguém por ele.
Aquilo me deixou com um nó na garganta. Estou tão acostumada a ver pessoas chamarem a imprensa para reclamar e cobrar alguma coisa, que achei lindo o Jean pedir apenas que alguém o ajudasse a aprender mais sobre as artes.
O Jean é um adolescente muito diferente dos outros. Enquanto muitos colegas de bairro dele já passaram dezenas de vezes pela delegacia e são conhecidos da polícia por envolvimento com tráfico de drogas e brigas de gangue, o adolescente vive em outro mundo. Ele esquece tudo e todos quando está com os pincéis e as tintas nas mãos. Os traços são seguros e a sensação que temos é de que o pequeno artista viajou na imaginação e não está mais ligado a esta realidade. É muito lindo!
Ele disse que precisava de muita coisa, pois não tinha pincéis suficientes, não tinha tintas importantes para a pintura e trabalhava em casa num cavalete construído pelo próprio pai.
Mas, a preocupação dele era não falar tudo isso, pois as pessoas poderiam achar que ele era ingrato, já que tinha recebido doações anteriores. Expliquei que não iria acontecer isso, pois explicaríamos o fato de forma bem delicada na matéria.
Ele relaxou e falou da paixão que tem pelas artes e do desejo de conhecer outras técnicas.
Fomos ao ateliê e conversamos com um professor do Jean, que confirmou o talento do adolescente. Por conta da sobrecarga de matérias durante o período eleitoral, a reportagem só foi exibida no início deste mês. Mas, valeu a pena a espera. Assim que o material foi ao ar no Jornal da Alterosa, muita gente ligou para a casa do Joaquim e da Maria Aparecida, oferecendo ajuda. Voltamos ontem para acompanhar algumas dessas pessoas entregando doações. O adolescente estava com um sorriso largo e mostrou feliz tudo o que ganhou. Ele agora tem duas maletas de pintura, várias tintas novas, uma coleção de pincéis e outros materiais para pintura e desenho.
Na entrevista, Joaquim e Maria Aparecida estavam emocionados e não paravam de agradecer o que tínhamos feito pelo filho deles. Oras, não fizemos nada! A história é que é linda.
Os pais é que se esforçaram e não desistiram diante das dificuldades.
O filho é que demonstra ser uma pessoa especial e merece ajuda para aprender e crescer como profissional no campo das artes. Nós apenas contamos a história, passando a nossa emoção e o carinho que sentimos pelo Jean para o texto e as imagens. Isso é nossa obrigação!
Eles são os responsáveis pela resposta rápida e pela confiança depositada por todos aqueles que decidiram ajudar.
O militar aposentado, Custódio Coelho, mora no mesmo bairro e doou uma maleta que vira cavalete. "O exemplo do Jean é muito bonito e ele merece apoio para desenvolver o dom que tem" explicou.
O professor de história, Clodoaldo da Silva Couto, disse que trabalha com crianças e adolescentes e lamenta que eles estejam se tornando tão violentos.
"Todo dia vemos notícias sobre isso na imprensa.
Mas, raramente vimos exemplos como o do Jean serem divulgados. Espero que ele consiga realizar os sonhos que tem e que possa ter um futuro promissor" desejou. Já o professor de matemática, Francisco Gonçalves da Silva, disse que não poderia deixar de colaborar com o adolescente. "Ver um garoto na idade dele com tanto talento e vontade de aprender é muito bom. Tomara que alcance tudo o que deseja" disse.
Torcemos para que o Jean cresça, apareça e nunca esqueça o quanto os pais lutaram para fazer com que os sonhos do filho se realizassem.
Esse é o tipo de reportagem que torcemos para fazer todos os dias.
Esse é o tipo de ligação familiar que torcemos para encontrar em cada casa e que está cada vez mais raro.
Parabéns ao Joaquim, à Maria Aparecida e ao Jean.
Foi, com certeza, um grande prazer conhecê-los.
Eu e o Robson já somos fãs desse pequeno artista.
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