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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Acidente com ônibus em Minas Gerais - 9 mortos

Por Michele Pacheco

Fim de ano trágico nas estradas de Minas.
Tanto sofrimento para tantas famílias!
Acompanhamos o desespero das pessoas em busca de notícias de parentes que estavam no ônibus da Viação Itapemirim que deixou Iúna, no Espírito Santo, às 15h30 da última segunda-feira, com destino a São Paulo.
Mas, a viagem terminou numa curva da BR 116, em Além Paraíba, Zona da Mata Mineira.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, por volta de onze da noite, motoristas viram um clarão saindo da estrada e pararam para descobrir o que era.
Eles viram pelo meio do mato da margem da rodovia que era um ônibus.
O motorista perdeu o controle da direção numa curva em declive, saiu da pista, desceu pela lateral e caiu numa ribanceira de 80 metros de altura.

Para piorar, o veículo ficou com as rodas para cima depois de bater numa pedra e cair dentro do rio Angú.
A cena assustava.
As equipes de resgate abriram com facão um caminho na encosta íngreme e escorregadia para ter acesso ao ônibus.

Mesmo assim, elas precisaram descer de rapel para facilitar o trabalho.
Imagino o desespero dos sobreviventes: noite escura, todos desnorteados depois de sacolejar dentro do ônibus e água turbulenta por toda parte.
Há vários relatos de passageiros que conseguiram se salvar da queda e desapareceram no rio.

Desde o momento em que foram acionados, durante a noite, os bombeiros e os policiais rodoviários federais não tiveram descanso. Além da dificuldade de acesso, era impossível virar ou içar o ônibus para agilizar a busca por sobreviventes ou corpos.
Os dois guinchos que estavam no local não tinham força para puxar o veículo pesado e preso nas pedras.
Os bombeiros viveram a agonia de ver os corpos dentro do veículo sem poder tirá-los de lá.

A frente do ônibus parecia em pior estado, mostrando que ele deve ter batido de frente antes de cair na água.
A força da correnteza, aumentada pelas chuvas fortes dos últimos dias arrastou alguns corpos e os bens dos passageiros.
Bombeiros de Juiz de Fora e de Muriaé se dividiram em frentes de trabalho.
Enquanto alguns ficavam próximos ao veículo, avaliando como retirar os corpos, outros procuraram nas margens.

Uma equipe usou um bote inflável para seguir no sentido contrário.
Os bombeiros tiveram acesso ao rio pelo pasto de uma fazenda, a 2 km do ponto da queda.
Eles ouviram de moradores que dois corpos estariam presos na vegetação da margem.
Mesmo com o motor, subir o rio Angu foi complicado.
Havia muita vegetação arrastada pela correnteza e pedras por todo lado.

Uma preocupação constante das autoridades era com a lista de vítimas.
A Itapemirim anunciou primeiro que eram 32 passageiros e o motorista.
Mas, como crianças com menos de 6 anos não pagam passagem, a Polícia Rodoviária Federal temia que elas não estivessem listadas e que o número de vítimas fosse maior.
Depois de muitos levantamentos feitos pela empresa e de conversas com os sobreviventes, a conclusão foi de que havia 34 pessoas no veículo.

Vinte e dois passageiros conseguiram se salvar.
Os feridos foram levados para hospitais de Além Paraíba e Leopoldina, cidade a 30 km do local do acidente.
Na Casa de Caridade Leopoldinense, a informação foi de que a maioria dos atendidos teve ferimentos leves e foi liberada pela manhã.
Um passageiro foi levado para o Hospital de Além Paraíba e também teve alta logo.

Nove pessoas morreram, entre elas, o motorista.
Ainda não foi confirmada a causa do acidente.
A Polícia Rodoviária Federal chamou a atenção para o fato de não haver marcas de freada no asfalto.
As marcas que existem são de outro acidente com ônibus, no mesmo local, em maio deste ano.
Na ocasião, duas pessoas morreram.

Desta vez, a suspeita é de que o motorista tenha passado mal ou dormido ao volante.
Todo mundo está cansado de saber que nesta época do ano as viagens são mais constantes e muitas vezes os profissionais das empresas de ônibus trabalham sobrecarregados e cansados.
Durante toda a tarde de terça-feira foram resgatados corpos no ônibus e no rio.
Um guincho maior foi usado para virar o veículo de lado e facilitar a remoção.

Com a noite chegando, três corpos foram amarrados em sacos plásticos e içados com ajuda do guincho.
O dia foi escurecendo rápido e seria muito arriscado tirar um corpo de cada vez e acabar sem visibilidade nos últimos.

Encontramos a Patrícia e o Ítalo, da TV Panorama, de prontidão na estrada.
Outras equipes percorreram os hospitais e garantiram uma bela cobertura para a emissora deles.
Estão todos de parabéns.
Em situações graves como essa, não há lugar para decisões lentas nas redações.
É preciso pensar rápido e com eficiência.
O diferencial é visto no ar.
Ontem, com certeza, foi um show de bola da TV Panorama.

A Rede Record também enviou equipe.
Ao serem informados do acidente, eles decidiram mandar o pessoal do Rio de Janeiro.
Os profissionais cariocas chegariam bem antes da equipe de Belo Horizonte.
Eles chegaram cedo, registraram tudo e voltaram apressados para exibir o material na hora do almoço.

O Robson e o Ítalo buscaram lugares com boa visibilidade do trabalho das equipes de busca. Alguns ficavam no alto de barrancos, às margens da rodovia.
Assim, foi possível registrar o avanço complicado do bote, em meio ao rio cheio.
Os bombeiros sumiam entre a vegetação e reapareciam, com expressão de ansiedade, sem conseguir seguir em frente por muito tempo.

O Tenente Coronel Rodney de Magalhães nos surpreendeu mais uma vez.
Ele chegou com uma das equipes de Juiz de Fora e foi logo assumindo uma postura operacional. Colocou o equipamento de rapel, desceu e avaliou de perto a situação.
Ele trocou idéias com o comandante dos bombeiros em Muriaé, Tenente Patrick Gomes.
Ficou decidido que guinchos maiores seriam contratados em Juiz de Fora para retirar o ônibus.

Todo o grupo agiu unido.
O trabalho foi acompanhado pelo Comandante Operacional dos Bombeiros em Minas Gerais, Coronel Celso Novaes.
Ele estava todo sujo de terra e molhado de chuva.
Mais um que ganhou nossa admiração pela postura participativa e atuante.
As equipes envolvidas neste caso mostraram competência e sensibilidade.

Além de se preocupar com o resgate dos corpos, todos encontraram palavras de carinho e de consolo para os familiares que se reuniram na estrada, rezando para encontrar as pessoas queridas com vida.

Infelizmente, a cada minuto que passava, a possibilidade de encontrar mais sobreviventes diminuía.
Os nove corpos resgatados foram levados para o Instituto Médico Legal de Leopoldina.
A chegada da noite complicou ainda mais o trabalho dos bombeiros.

Os operadores dos guinchos usaram holofotes para iluminar o caminho e permitir que a equipe que estava em baixo fosse vista. Mas, a chuva forte e o vento tornaram lenta a remoção.
Ficamos sem bateria de câmera e deixamos o local por volta de 23h. O ônibus só foi içado quase às duas da madrugada.
Nele, ainda havia o corpo de uma passageira preso às ferragens.

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