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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Prefeitura e moradores discutem demolições em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

Foi realizada, hoje à tarde, uma reunião entre o prefeito de Juiz de Fora e os integrantes da Associação dos Moradores prejudicados pelas demolições no bairro Santa Tereza, zona sudoeste da cidade.
O grupo grande estava dividido entre aqueles que tinham esperanças de que o novo governo resolva a situação e os que estavam descrentes, já que muita promessa foi feita em um ano e nada foi cumprido.

Em março do ano passado, depois de uma semana de temporais, rachaduras começaram a aparecer em duas ruas do bairro Santa Tereza.
As moradias no alto e na base da encosta foram afetadas.
Paredes racharam, o chão afundou em alguns pontos e levantou em outros, o barranco apresentou pontos de escorregamento de terra.
A cena era assustadora.
Parecia que a camada de vegetação e tinha sido empurrada com força para baixo, descendo em diagonal.

Dia após dia, moradores, autoridades e imprensa acompanharam a evolução dos problemas.
Na parte de baixo, calçadas inteiras levantaram, empurradas pelas moradias que estavam "andando" para o meio da rua.
Casas grandes e bem construídas foram ruindo aos poucos.
Os moradores foram retirados logo que os primeiros sinais de problemas foram detectados.
O plantão de técnicos da Defesa Civil no local era feito 24h.
A informação era sempre que tudo poderia desmoronar de uma hora para outra.

Nós acompanhamos o sofrimento de todas aquelas famílias que assistiam impotentes o poder da natureza destruindo tudo o que levaram uma vida inteira para construir.
Uma cena que me marcou muito foi o Seu Gonçalves insistindo que a casa dele não iria ruir, que ele tinha construído com o que havia de melhor e que tinha certeza de que não perderia o lar. Isso foi dito apenas um dia antes das máquinas serem enviadas pela prefeitura para a demolição.

Depois de vistorias da Defesa Civil, de técnicos vindos de São Paulo e de uma perícia feita por peritos do Instituto de Criminalística de Belo Horizonte, o então prefeito, Alberto Bejani, foi ao bairro, reuniu os moradores e anunciou que faria a demolição e pagaria indenizações a todos os prejudicados. Pouco depois, as máquinas trabalharam rápido, para reduzir o peso no alto do barranco e o risco de desabamentos que poderiam atingir mais casas na parte de baixo.

A casa do Seu Gonçalves foi uma das últimas a serem derrubadas.
A dificuldade dos operários confirmou o que o aposentado havia dito:
os materiais usados na construção eram da melhor qualidade.
Ele teve que ser amparado e retirado do local pelos filhos.
Ver o sonho de uma vida virar escombros foi demais para o comerciante, que perdeu duas casas e um bar no Santa Tereza.
Hoje, ele vive numa casa modesta com a mulher em Chácara, cidade vizinha.
Sem saúde e sem casa, os dois sobrevivem da esperança de ver o caso ser resolvido e de receber uma indenização que permita a compra de um apartamento e o retorno a Juiz de Fora.
Ele era um dos representantes da comissão na reunião de hoje.

O que me chamou a atenção foi uma pergunta que o prefeito Custódio Mattos fez entre um desabafo e outro dos presentes.
Por motivos diversos, os moradores reclamaram da validade do laudo feito pelos peritos de Belo Horizonte.
Uns disseram que não valia, pois nenhum engenheiro participou da análise.
Outros alegavam que ele não tem valor legal para embasar as demolições.
E por aí foram as justificativas.
O prefeito perguntou onde estava o documento contestando oficialmente o laudo.
E foi informado de que esse documento não existia.

Dá para imaginar isso?!
Todas aquelas pessoas desesperadas, fazendo protestos sem conta exigindo providências, tendo espaço e atenção na mídia... e não tendo em mãos um documento imprescindível para o andamento do processo que movem contra o município de Juiz de Fora!
Só um ano e um mês depois das demolições é que eles vão redigir a contestação.
O prefeito colocou à disposição da Associação um advogado para ajudar na elaboração do tal documento.

Enfim, os moradores vão se reunir para discutir as medidas que vão adotar agora.
O presidente da Associação, Reinaldo Freez, não estava muito satisfeito.
"Não ouvimos o que queríamos, mas pelo menos não ficamos sem uma resposta. Agora é reunir todo mundo e avaliar as próximas ações" explicou Reinaldo, que perdeu cinco casas no Santa Tereza.

O prefeito explicou aos moradores que a prefeitura tem o dever de se defender no processo movido pela associação.
"Eu sou prefeito, não sou dono da prefeitura. Eu assumi em janeiro, não estava aqui quando tudo aconteceu. Mas, a prefeitura não acaba com um governo ou outro, ela continua. Por isso, independente de quanto tempo demore, o município tem a obrigação de se defender" disse Custódio Mattos, reforçando que entende as reivindicações dos moradores.
Ele disse ainda que, apesar de considerar justas as cobranças, não tem poder para pagar nenhuma indenização.
Isso só vai ocorrer por ordem judicial.
Desapropriações também são estudadas.

Enquanto a discussão se estendia, os repórteres cinematográficos e fotográficos se espremiam na sala de reuniões.
Eles tinham que ficar atentos a qualquer incidente, registrar imagens e depoimentos.
Tudo isso, sem atrapalhar o encontro.
Para isso, vale a imaginação.
Como trabalhar sem ficar na frente de ninguém? Cada um deu um jeito.

O Moisés Valle, da TV Panorama, escolheu as pontas da mesa, que tem formato de U.
Ele ficava um pouco num canto e trocava para o outro.
Assim, compensou a falta de tripé e teve apoio firme para gravar parte do que foi dito no encontro.
Como diz o Robson, vale tudo na hora de procurar um bom apoio.

Por falar no Robson, ele tentou driblar as imagens burocráticas, típicas desse tipo de cobertura, mudando os ângulos.
Com a câmera no ombro, ficou por trás das pessoas sentadas à mesa e foi capturando imagens e sons de cada um.
Os debates entre o prefeito e os moradores mereceram atenção especial.

Para ter imagens mais próximas, como se estivesse de frente para o prefeito, ele optou por se agachar no meio da sala.
Imagine a dificuldade de ficar abaixado, sem atrapalhar a visibilidade de ninguém, para um homem de 1,90m!
E ele tem tanta experiência em passar despercebido em eventos desse tipo, que realmente não atrapalhou.

Numa cobertura de coletiva ou de reuniões assim, a gente flagra os colegas em poses bem engraçadas.
Olhe o Humberto Nicoline, fotógrafo da prefeitura.
Os desavisados que passassem pela sala poderiam até pensar que ele estava rezando por uma solução rápida para os problemas no bairro Santa Tereza.

Mas, nosso amigo estava mesmo era procurando um ângulo diferente.
Ele não se contentou em ajoelhar.
Ainda usou a ponta da mesa como apoio de cotovelo e disparou a câmera.
Tomara que tantas poses inusitadas tenham rendido um bom material.

Quem vê o pessoal de imagem trabalhando, não imagina que tanto esforço acaba se transformando em um minuto ou dois de reportagem na TV e em uma ou duas fotos, no máximo, nos jornais.
Mas, a gente não lamenta.
Pelo contrário!
Trabalhar com jornalismo é bom demais!

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