Por Michele Pacheco
Hoje foi um dia de vigília. Primeiro, eu e o Robson fomos para o bairro JK, na zona leste de Juiz de Fora, acompanhar a demolição de uma casa. A moradia foi atingida pelo deslizamento de um barranco que arrastou morro abaixo dois cômodos de um depósito de material de construção. Na hora do impacto, um ambulante de 48 anos estava em casa e ficou soterrado, debaixo de uma laje. Ele foi salvo com vida graças ao trabalho heróico dos bombeiros que se arriscaram no meio dos escombros por quase três horas para salvar mais uma vida. A casa e a parte do depósito precisavam ser removidas pois estavam pesando no barranco e poderiam provocar outros desabamentos.
Chegamos ao local e paramos o carro na rua de baixo. O ângulo para imagens era ruim. O jeito foi pedir ajuda aos moradores. Um grupo muito gentil abriu um portão e nos convidou para subir numa laje, de onde teríamos uma visão privilegiada do trabalho dos bombeiros e da Defesa Civil. A laje parecia ponto turístico.
O Robson se espremeu daqui, pediu licença dali, foi conquistando espaço de lá... Fez as imagens e decidimos seguir para a rua de cima e tentar registrar a demolição de outro ângulo. Antes de sair, claro, fomos agradecer aos donos da casa pelo "empréstimo" do espaço. Perguntei para um, para outro e ninguém morava na casa. Já estava assustada, achando que tínhamos invadido o pedaço, quando uma senhora explicou que a filha dela era a dona da casa e tinha liberado a laje para os vizinhos acompanharem a movimentação. Ufa!
Na parte de cima, o local onde os bombeiros, funcionários da Secretaria Municipal de Política Urbana e engenheiros da Defesa Civil trabalhavam era complicado. Eles estavam no que tinha restado do depósito de material de construção e pediram para que evitássemos chegar perto, pois o risco de deslizamento era grande.
Para fazer a imagem, o Robson passou por dentro de uma loja e fez tudo de uma janela. Depois de amarrar uma coluna da casa, a equipe puxou o cabo de aço com cuidado, jogando a casa no chão.
Missão cumprida no bairro JK, fomos para o bairro Santa Tereza acompanhar a vistoria de uma equipe da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. Chegamos ao local e eles já tinham terminado o trabalho. Ficamos por perto à procura de novidades sobre o caso. O Robson registrou as mudanças nas casas ameaçadas. Na semana passada, esta calçada tinha levantado uns dez centímetros. Agora, todo o passeio e parte do asfalto estão destruídos. A casa que parecia sólida está "empenada" e pode cair a qualquer momento.
Esta outra moradia estava toda rachada e agora perdeu a marquise e parte da fachada. O perigo é grande e as fendas nas paredes estão aumentando. Os estalos são ouvidos de longe. São pisos e vidros se quebrando com o movimento da terra nos fundos.
No meio dos estragos, uma cena nos chamou a atenção. A Paquita, uma cadelinha vira-lata que flagramos com olhar triste, debaixo da marquise da loja onde dormia, encontrou o dono. Segundo o Mauro, desde que a amiga de estimação apareceu na nossa reportagem, virou estrela. Ela ganhou até hospedagem na casa de um vizinho.
Gravamos o que era preciso e já estávamos indo para o carro, quando ouvimos um estalo e vimos uma rachadura aparecer num barranco. Voltamos correndo e nos posicionamos num local seguro e com ângulo privilegiado. Mais uma hora no sol forte e decidimos ir embora mais uma vez. Adivinhe! Outro estalo e, dessa vez, foi o reboco de uma casa que caiu. Lá fomos nós de novo para nosso ponto de observação. Só saímos de lá no fim da tarde, para não perder a matéria da noite.
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