Por Michele Pacheco
Com certeza os brasileiros vão pensar duas vezes antes de citar o trecho mais conhecido do poema: "Vou-me embora para Pasárgada, porque lá sou amigo do Rei..."
O reino tão sonhado, onde tudo é possível graças à "amizade" com o rei, não deu muito certo na vida real.
A Polícia Federal realizou no dia 9 de abril a primeira fase da Operação Pasárgada.
Entre os presos estava o prefeito de Juiz de Fora, Alberto Bejani.
Durante os 14 dias em que ele ficou preso, vimos aliados políticos pulando do barco, tentando justificar a ligação com Bejani e se agarrando a outros nomes influentes.
O então prefeito foi solto, voltou com carga total à mídia, mostrando documentos que afirmava comprovarem a origem dos R$1,2 milhão apreendidos na casa dele e deixando em saia justa quem tinha debandado.
Mas, as investigações apontaram irregularidades nas provas apresentadas e algumas testemunhas importantes indicadas por ele pioraram a situação, fazendo denúncias graves.
Na quinta-feira passada, a Polícia Federal sacudiu de novo o reino de Pasárgada.
Alberto Bejani foi preso mais uma vez e vídeos foram divulgados, mostrando o então prefeito negociando propina com o empresário Francisco Carapinha, o Bolão, em troca de liberação de aumento nas passagens de ônibus no município.
Nessa segunda-feira, Bejani renunciou de dentro da Penitenciária Nélson Hungria e o vice, José Eduardo Araújo, assumiu o cargo prometendo rigor no combate à corrupção e auditorias freqüentes no Executivo.
Achamos que o caso estava concluído, mas nada disso.
Ontem, fomos avisados de que a Polícia Federal estava apreendendo veículos em lojas da concessionária dos Carapinha. Fomos até um shopping automotivo na saída de Juiz de Fora e acompanhamos a retirada de cinco carros.
Um sexto veículo já tinha sido apreendido numa loja na Avenida Independência, no centro da cidade.
Os policiais saíram em comboio até à Delegacia da Polícia Federal e depois seguiram com as apreensões.
Eles tinha doze mandados de busca e apreensão para cumprir.
Desde o início da Operação Pasárgada, os federais não têm descanso.
O material recolhido na primeira operação foi avaliado com calma e todos os detalhes checados.
Agora, eles estão indo em busca de documentos e provas para complementar as investigações.
Foi por isso que no início da tarde de hoje eles voltaram a agir.
Uma equipe da Polícia Federal esteve no escritório do ex-prefeito, na Avenida Rio Branco, número 3500, ponto tradicional de escritórios políticos.
A denúncia era de que as paredes do imóvel eram ocas e usadas para guardar dinheiro e documentos. Os policiais agiram com um mandado de busca e apreensão, trazido de Belo Horizonte pelo Delegado Mário Velloso, que comandou a Operação de Volta para Pasárgada.
Depois de passar a tarde com marretas, derrubando as paredes construídas para unir duas salas do prédio comercial, os policiais não acharam nada.
A informação é de que ali era mesmo guardado dinheiro, mas tudo que havia de interessante e comprometedor foi retirado por assessores depois da primeira prisão.
Com a renúncia e a prisão, Bejani deixou de ser interessante para quem tem ambições políticas. Quem antes enchia a boca para falar com orgulho o nome do ex-prefeito, agora busca alianças entre os inimigos políticos de Alberto Bejani.
Essa história serve de alerta para os candidatos e eleitores.
Não adianta ser amigo do rei, se ele estiver na mira da Polícia Federal. E, se estiver, não adianta insistir em lealdade política. O que acaba valendo é o "salve-se quem puder".
Cuidado da próxima vez que tiver que recitar o poema.
"Vou-me embora para Pasárgada, porque lá sou amigo do Rei..." Na política, as amizades podem ser perigosas e comprometedoras.
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